LOC - LIVRO DE ORAÇÃO COMUM

 

NA BELEZA DA SANTIDADE: uma introdução ao livro de oração

O anglicanismo tradicionalmente defende o princípio chamado “lex orandi, lex credendi” – significando algo próximo a “a lei da oração é a lei da crença”. A alma do anglicanismo é a sua liturgia. A liturgia anglicana segue o padrão do Livro de Oração Comum. Os anglicanos eram conhecidos nos EUA como “o povo do livro de oração”. Livro de Oração Comum (BCP em inglês) é o nome dado a uma série de livros litúrgicos usados nas igrejas anglicanas e por outras igrejas cristãs relacionadas ao anglicanismo. O seu nome completo é “O Livro de Oração Comum e Administração dos Sacramentos e outros Ritos e Cerimônias da Igreja, de acordo com o uso da Igreja da Inglaterra, Juntamente com o Saltério ou Salmos de Davi, apontado como devem ser cantadas ou ditas nas igrejas: E a Forma e Maneira de Fazer, ordenar e Consagrar Bispos, Sacerdotes e Diáconos”.

2. A estrutura do Livro de Oração Anglicano 

O Livro de Oração é uma síntese de diferentes textos litúrgicos: o Missal (a eucaristia), o Breviário (ofícios diários), do Sacramentario (os serviços ocasionais de baptismo, exéquias, etc.) e do Pontifical (ritos de confirmação e ordenação). Em 1550, um músico, John Lerbecke, publicou o “Livro de Oração com notações musicais”, que definiu o que seria o Ordinário da missa (Kyrie, Gloria, Credo, etc.) no novo BCP para cantochão simples inspirado no rito de Sarum. Hoje, o Livro de Oração Comum, com variações locais são usadas em igrejas anglicanas em mais de 50 países e mais de 150 idiomas diferentes. Há três versões do BCP que são particularmente relevantes: 1549, 1928 e 1970.

3. O livro de oração de 1549

Esse foi o primeiro Livro de Oração, publicado em 1549 no início do reinado de Educado VI da Inglaterra, logo após a ruptura de Henrique VIII com Roma. Este livro criou o “padrão litúrgico anglicano” ao incluir as formas completas da celebração dos ofícios diários e da santa eucaristia dominical em inglês. A maior parte do material usado por essa versão veio do antigo rito de sarum, dos missais ingleses antigos e uma segunda parte das liturgias orientais e reformadas, em especial a luterana.

O Livro de Oração Comum de 1549 foi um compromisso temporário entre reformadores radicais e conservadores. Forneceu aos protestantes um serviço livre do que eles consideravam “superstição”, mantendo a estrutura tradicional da missa. Foi criticado pelos protestantes por ser muito suscetível à reinterpretação católica romana. Já o clero conservador aproveitou as “brechas” no livro de orações de 1549 para tornar a nova liturgia o mais parecida possível com a antiga missa em latim, incluindo a elevação da hóstia durante a eucaristia. 

O bispo tradicional Stephen Gardiner, conhecido por sua defesa da presença real de Cristo na eucaristia, endossou o livro de orações de 1549 enquanto estava na prisão. O historiador católico romano Eamon Duffy observa que muitos leigos trataram o livro de orações “como um missal inglês”. Os calvinistas, evidentemente, consideraram o livro muito tradicional. Portanto, o primeiro livro de oração já iniciou o debate que continuará por toda a história do anglicanismo sobre o objetivo e significado da reforma inglesa. Séculos depois, o livro de orações de 1549 se tornaria popular entre os anglo-católicos.

4. O livro de oração de 1928

Este Livro é fruto dos avanços do movimento de renovação católica de Oxford. É considerado o mais tradicional de todos os livros de oração e segue, de perto, o BCP de 1549. Uma de suas principais características é a ênfase na presença real de Cristo e no fato do celebrante oficializar “Ad oriente”. Ele sofreu um em grande parte em oposição à prática do sacramento reservado. É atualmente usado pelas igrejas anglicanas continuas, como a Igreja Anglicana Tradicional, sozinho ou junto com o Missal Anglicano. Este livro também é a base para o “Livro do Culto Divino” dos ordinariatos.

5. O livro de oração de 1979

Este livro reflete a influência do Movimento litúrgico e, em especial, da reforma litúrgica católica romana após o Concílio Vaticano II. Entre as características desse livro estão a “modernização” da linguagem, a ênfase na participação do povo com o celebrante ad populum, a adoção de duas estruturas litúrgicas para a comunhão (ritos 1 e 2) e a introdução de 4 orações eucarísticas. A Convenção Geral da Igreja nos Estados Unidos em 1976 aprovou o uso de uma proposta de nova revisão do Livro de Oração Comum por uma ampla margem de votos. Foi também nesta Convenção Geral que a ordenação de mulheres foi aprovada dentro da Igreja Episcopal. Este é o BCP da Comunhão Anglicana.

POR REV. DR. RODSON RICARDO

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