C. S.Lewis: Do ateísmo a fé de seus pais
Por Prof. Pedro Mendes
C.S.Lewis (1898-1963), filho do advogado, Albert Lewis e da professora de lógica, Flora Lewis, foi um autor e escritor irlandês, conhecido por seu trabalho sobre literatura medieval, palestras, e escritos cristãos. Apesar de ter nascido numa família de tradição anglicana, nem sempre esteve alinhado com a fé de seus pais. Num mundo de idas e vindas, Lewis deixaria a religião cristã ainda na adolescência, para só então na vida adulta fazer o caminho de volta para casa. Para entender essa trajetória é preciso traçar as linhas necessárias que marcaram suas experiências religiosas quando ainda era criança.
Na infância, C. S.Lewis, ao lado de seu irmão, Warren Lewis, viveu como um menino prodígio lendo mitos, lendas, romances, e se familiarizando com os textos clássicos da filosofia grega e romana. Experiências que seriam marcantes em sua formação intelectual e acadêmica. Sua educação religiosa era, de alguma forma, flexível, e trazia as marcas de uma tradição que mesclava tendências católicas e protestantes. Contudo, depois da morte de sua mãe, em 1908, a vida de Lewis virou de cabeça para baixo. Em sua autobiografa “Surpreendido pela alegria” ele afirma: “A morte de minha mãe proporcionou-me aquilo que alguns (menos eu) talvez considerem minha primeira experiência religiosa. ” (p.31). Aqui, possivelmente, foi plantada a primeira semente do ateísmo no coração de Lewis. “Com a morte de minha mãe, toda felicidade serena, tudo que era tranquilo e confiável desapareceu de minha vida...”(p.32) escreveria ele mais tarde.
Além da morte trágica de sua mãe, destaca-se como fatores influentes ao ateísmo de Lewis: a educação confessional, oriunda dos colégios internos que ele estudara e a leitura dos clássicos, principalmente Virgílio e Lucrécio. Já na adolescência, Lewis se deu conta de que sua fé pueril havia desaparecido de sua vida. Aos 16 anos, escrevendo para seu amigo de infância, Artur Greves, ele diz: “Não acredito em nenhuma religião...e do ponto vista filosófico o cristianismo nem mesmo chega a ser a melhor...” (Cartas a Artur Greves, 1915). Para Lewis, o cristianismo não passava de uma mitologia entre outras. Deus era uma projeção da mente criada para canalizar as experiências humanas num hipotético mundo metafisico.
Por mais de uma década, ele vivera como um ateu convicto. Porém, depois de suas experiências nos campos de guerra, muitas questões foram levantadas e colocaram em xeque o ceticismo de Lewis e de muitos de seus conterrâneos. Lewis tentou de todas as formas fugir de Deus e de sua presença, mas quanto mais se esquivava, mas sentia-se encurralado. Ele não conseguia pensar na ideia de um Deus que se intrometia nas decisões humanas. “Nenhuma palavra em meu vocabulário invocava maior ódio do que interferência, (p.200) ” escreveu ele.
Nada parecia favorável ao ateísmo de Lewis. Suas leituras, suas amizades e seus embates pareciam conspirar contra Ele. Quando leu “Phantestes” do escritor cristão, George MacDonald, ele não sabia até onde isso poderia lhe conduzir. Naquele noite, após a leitura do livro, “minha imaginação estava sendo batizada”(p.203), afirmou ele posteriormente. Além de MacDonald, Lewis também seria afetado pela leitura de Chesterton, escritor inglês. Segundo ele mesmo relata: Na leitura de Chesterton, como na de MacDonald, eu não sabia daquilo em que estava me metendo. ” E acrescenta: “O jovem que deseja se conservar ateu não pode ser seletivo demais nas leituras. (p.204). Havia ciladas por todos os lados...
Aos poucos o ateísmo de Lewis estava sendo desmontado. Para ele, era como se um boneco de neve começasse lentamente a derreter. Até que numa noite tensa, marcada por certa dose de desespero existencial, em seu quarto no Magdalen College, C.S. Lewis entrega os pontos. “Cedi, diz ele, no período letivo posterior a páscoa de 1929, admitido que Deus era Deus, e ajoelhei-me e orei: talvez, naquela noite, o mais deprimido e relutante de toda Inglaterra.” (p.253)
C.S.Lewis passa a crer em Deus. Embora aqui não se trate ainda de uma conversão ao cristianismo. Contudo, em setembro de 1931, após uma longa conversa com Tolkien e Hugo Dyson, Lewis ficou convencido de que a fé cristã era real, e em 28 de setembro de 1931, Lewis retornou para a fé cristã, enquanto era conduzido na garupa de uma motocicleta em um passeio ao Zoológico Whipsnade. Ele começou a frequentar a Igreja Anglicana – contrariando a vontade de seu amigo Tolkien, que era católico romano – na Paróquia Holy Trinity, em Oxford, onde permaneceu durante todo o resto de sua vida. Ironicamente, o conceito primário de mito que fundamentava seu antigo ateísmo, fora agora redefinido para dar sustentação a fé cristã de C.S.Lewis.
Escrevendo outra vez a seu amigo Artur Greves, ele diz: O que Dyson e Tolkien me mostraram foi isto: se encontrei a ideia de sacrifício em uma história Pagā, absolutamente não a considerei; de novo, se encontrei a ideia de um deus sacrificando-se, gostei muito dela e fui misteriosamente movido por ela; outra vez, se encontrei a ideia de um deus morrendo e revivendo ( Baldar, Adônis, Baco), de forma semelhante, ela me moveu, pois não a encontrei em parte alguma senão nos Evangelhos.” (Carta a Arthur Greeves, 1931). Em anos posteriores, ele ressalta a supremacia do cristianismo diante das mitologias pagãs. Segundo ele: “O cerne do cristianismo é um mito que também é um fato. O velho mito do deus que morre, sem deixar de ser mito, desce do céu da lenda e da imaginação para a terra da história...(Deus no banco dos réus, p.205)
Após a sua conversão Lewis começou a frequentar a igreja anglicana da Inglaterra, tornando-se posteriormente um dos maiores defensores da fé cristã. Ele não abraçou nenhuma ideia radical de cristianismo, embora se mantivesse fiel aos princípios tradicionais da fé de seus pais. “Sou um leigo dos mais convencionais da Igreja Anglicana, sem preferência especial pela Alta e Baixa Igreja...” afirma ele, no livro “Cristianismo puro e simples, p.10). Durante toda sua vida, Lewis nunca chegou a ser membro da ala anglo-católica e tampouco da ala evangélica. Ele permaneceu fiel ao “mero cristianismo” que encontra na extensa “via média” anglicana com sua tentativa de fundir tendências católicas e protestantes no cristianismo ocidental...Entretanto, ”Se alguém quiser saber sobre minhas crenças, afirma ele, elas estão todas no LOC (Livro Comum de Oração.p.13.)
Apesar de ser teologicamente ortodoxo e de certa maneira conservador, Lewis não era dogmático em questões secundárias que dividiam os cristãos. Ele continua influente nos debates públicos, atraindo admiradores e críticos do mundo inteiro. Seus livros continuam moldando a fé de muitos cristãos, e fazendo o caminho de volta de muitos que, assim como ele, deixaram a fé de seus pais.
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