POR QUE DEVEMOS LER OS DEUTEROCANÔNICOS E APÓCRIFOS?

Por Rev. Padre Rodson Ricardo.

Sou anglo-católico. Os anglicanos sempre fizeram algum uso litúrgico dos livros deuterocanônicos. Os livros deuterocanônicos apareceram como parte da Sagrada Escritura com a tradução das Escrituras Hebraicas para o grego por judeus alexandrinos que foram reunidos para esse propósito no Egito pouco antes dos tempos do Novo Testamento. Tudo indica que essa foi a “Bíblia” dos apóstolos. 

Ao longo dos séculos, no entanto, esses livros foram contestados por muitos; muitos os consideram como tendo pouco ou nenhum valor como Escritura. Mas essa não era a posição da Igreja (Oriental e Ocidental) até o século XVI. Os primeiros Concílios Latinos de Roma (382), Cartago (397) e Trullo (Constantinopla 692) aceitaram os deuterocanônicos como canônicos, ou seja, adequados para proclamação e ensino durante a Sagrada Liturgia.

A “Bíblia Anglicana”, ou seja, a Versão Original do Rei Tiago (KJV), 1611, continha certas Escrituras além daquelas normalmente encontradas na Bíblia hebraica e na maioria das Bíblias ocidentais. Na verdade o “cânon anglicano” é quase tão extenso quanto o da igreja ortodoxa (1 Esdras, 2 Esdras, Tobias, Judite, Ester Grega, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, Carta de Jeremias, Oração de Azarias, Susana, Bel e o Dragão, Oração de Manassés. 1 Macabeus e 2 Macabeus), apenas o Salmo 151 ficou de fora. 

Esses escritos fizeram parte da KJV por 274 anos até serem removidos em 1885 d.C. Eles começaram a ser deixados de fora das cópias impressas na América, porque não eram populares na América (essencialmente puritana) e era mais barato simplesmente imprimi-los sem esses livros. Então essa tradição meio que “pegou”. 

Às vezes, esses livros recebem o título Deutero-canonicas em contraste com Proto-canônico para distinguir os primeiros (ou proto) livros canônicos daqueles que vieram depois (deutero, segundo). Este termo deve ser preferido a “Apócrifos”, pois essa palavra pode ter significados negativos.

Não apenas esses livros podem e devem ser lidos. Também os chamados “apócrifos do Novo Testamento”. A diferença é que esses devem ser lido em privado e não no culto público da Igreja. Contrariando o senso comum nem todo apócrifo é herético ou inútil. Pelo contrário. Basta lembrar que os nomes dos pais da Virgem Maria, Joaquim e Ana, vêm do Protoevangelho de Tiago. E o que dizer do Didaquê, o primeiro catecismo da Igreja?

Dos deuterocanônicos Tobias é uma apologia a instituição do matrimônio e dele obtemos o nome do terceiro arcanjo, Rafael, que vence o terrível demônio Asmodeus. O 2 Macabeus nos mostra a prática judaica de oração pelos mortos, que continuou no cristianismo. A Sabedoria nos dá um pano de fundo sobre a personificação da Sabedoria Divina, preparando o caminho para uma compreensão da Palavra e do Espírito.

O Daniel grego nos dá o Cântico de Ananias, Azarias e Mizael na fornalha ardente, que é um louvor a toda a criação, frequentemente usado liturgicamente, por exemplo, nos ofícios diários e dias festivos. Além disso, ele nos dá a visão apocalíptica do Ancião dos Dias, e do Filho do Homem sendo levado à sua presença. Os livros de Judite e Ester são um monumento a dignidade das mulheres e uma prova do seu papel nos planos de Deus.

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